Como pode Donald Trump ter popularidade negativa se o povo votou nele?

18.1.17


Hello people!!!

A pergunta acima foi feita por uma amiga no facebook.
Acredito que muitas pessoas possam ter esse dúvida, então, decidi fazer esse post para tentar ajudar.

Ontem, vários jornais noticiaram que Donald Trump assume a presidência dos EUA com a maior rejeição em 40 anos.
A cerimônia de posse será na próxima sexta-feira, 20 de janeiro.
Dados divulgados pelo jornal The Washington Post e pela emissora ABC afirmam que a popularidade de Trump não supera os 40%, enquanto 54% dos eleitores mantêm sentimentos contrários ao magnata. 
Antes de tomar posse, o democrata Barack Obama tinha uma aprovação de 79%. 
Já o republicano George W.Bush tinha 62% e o também democrata Bill Clinton, 68%.
Mas então, "como pode Donald Trump ter popularidade negativa se o povo votou nele?"

crédito: Getty Images

Entenda como funciona as eleições nos Estados Unidos da América

Os eleitores dos EUA escolhem seu presidente a cada quatro anos. De modo geral, a votação é similar à que ocorre no Brasil: no dia das eleições, os eleitores vão às urnas e votam no candidato de sua escolha, de modo secreto.

Há, entretanto, duas diferenças fundamentais. 
A primeira está na modalidade do voto, que, nos Estados Unidos, é facultativo. 
Ou seja: no dia das eleições, o cidadão pode ir ou não ir às urnas, sem com isso ter qualquer prejuízo ou precisar apresentar qualquer justificativa. Isso também implica um tipo diferente de campanha, na qual os candidatos precisam convencer os eleitores pouco mobilizados a participar das eleições.

A segunda diferença reside no caráter indireto das eleições americanas. 
Ao contrário do Brasil (onde a totalidade dos votos dos cidadãos é somada e, disso, concluído o vencedor do pleito), nos Estados Unidos o voto do eleitor não é creditado diretamente ao seu candidato. Os votos dos eleitores de cada Estado (ainda que dados para candidatos específicos) servem para eleger delegados no Colégio Eleitoral (Electoral College). São estes que representarão os eleitores de sua unidade federativa na escolha final do futuro presidente.

Crédito: Jonathan Ernst (Reuters)

Desde 1954, o Colégio Eleitoral é composto de 538 assentos, dos quais pelo menos 270 votos (maioria mínima) são necessários para se decretar um vencedor.
Ocorre, no entanto, que, na maioria dos casos, a determinação final dos votos de cada Estado é absoluta, e não proporcional. Isto é: o candidato que obtiver a maioria dos votos populares em um Estado fica com todos os delegados atribuídos a esse território. Isso significa que apenas os delegados de seu partido representarão o Estado no Colégio Eleitoral. Esse sistema é conhecido como "The Winner Takes It All" ("O Vencedor Leva Tudo"). (Os únicos Estados em que se realiza uma contagem diferente são Maine e Nebraska.)

Soma-se a isso que cada Estado tem uma quantidade própria de representantes determinada proporcionalmente pelo tamanho de sua população. O sistema, assim, permite que, no final das eleições, "A" obtenha mais votos totais que "B" e, mesmo assim, acabe derrotado no Colégio Eleitoral por ter perdido a disputa nos Estados mais populosos.

Foi o que aconteceu com Trump. Contrariando pesquisas e previsões, ele derrotou Hillary Clinton. 
Trump alcançou 276 delegados, ultrapassando o limite de 270 necessários para ser o vencedor no Colégio Eleitoral.
Apesar da democrata Hillary ter 2,9 milhões de votos a mais que o republicano Trump, ela perdeu no Colégio Eleitoral.
Hillary teve 65.844.610 milhões de votos (48%) e Trump cerca de 62.979.636 milhões de votos (46%).

Broches para seguidores de Trump em um posto de venda em Iowa
crédito:  Brendan Hoffman (AFP)

SOBRE OS DELEGADOS - Como são escolhidos os delegados?

Os votos dos cidadãos servem para dizer aos delegados de seu partido qual candidato à presidência dos EUA devem apoiar na Convenção Nacional do partido, que acontece durante o verão no hemisfério norte. Cada Estado tem um número diferente de delegados e um processo de designação. O objetivo dos candidatos é acumular o maior número de delegados o mais rapidamente possível.

Caucus (convenções partidárias) e primárias 

Existem duas formas de escolher os delegados.
Os caucus são assembleias de cidadãos em que se debate quem é o melhor candidato. Os participantes devem ser filiados ao partido correspondente e, na noite da votação, podem debater e tentar convencer outros votantes.
No caso das primárias, no entanto, o voto é secreto.
As primárias podem ser abertas, o participante pode votar independentemente do partido ao qual está filiado. Ou fechadas, quando é exigida filiação partidária para participar.
Nos dois casos, os votantes só podem participar da primária democrata ou da republicana, mas nunca de ambas.

Delegados e superdelegados 

Os delegados das eleições nos Estados Unidos são os membros do partido presentes à Convenção Nacional, votando em função do que foi decidido pelos eleitores de cada Estado. Os Superdelegados, no entanto, não têm seu voto vinculado a um candidato. São membros do Comitê Nacional do partido, membros da Câmara dos Representantes e senadores.

O elefante é o símbolo do partido republicano; o asno representa os democratas

Como são distribuídos? 

No Partido Democrata, a designação dos delegados é proporcional, isto é, a porcentagem de delegados atribuídos a cada candidato corresponde ao número de votos recebidos em cada Estado. Num Estado com 10 delegados e três candidatos, se 60% dos votantes apoiam o candidato A, 20% apoiam o candidato B e 20% o candidato C, o candidato A receberá seis delegados e os candidatos B e C dois cada um.

No Partido Republicano, cada Estado pode decidir como são designados os delegados, pelo sistema proporcional ou pelo chamado winner take all [o vencedor pega tudo, em tradução livre], que concede todos os delegados ao candidato com mais votos. Os Estados que usam este último sistema de designação, como Flórida, Ohio ou Illinois, adquirem mais peso nas primárias por sua capacidade de poder provocar uma reviravolta na corrida presidencial.

Quantos são? 

No Partido Republicano há 2.470 delegados em jogo e um candidato precisa de metade dos delegados mais um para conseguir a indicação: 1236. O partido também tem 150 superdelegados.
No Partido Democrata existem cerca de 4.491 delegados e 718 superdelegados. Um candidato precisa de 2.246 delegados para a indicação.

A Convenção Nacional 

Tradicionalmente, cada partido chega à sua Convenção com um candidato vencedor depois do processo das primárias. Se isso não aconteceu, as candidaturas podem ser submetidas a uma nova votação pelos delegados e superdelegados, cujo poder ganha um peso especial em tais circunstâncias.

Por que Iowa é tão importante? 

Apesar de o número de delegados atribuídos através dos caucus ser minoritário -10% no caso dos democratas e 15% entre os republicanos- a importância dos caucus de Iowa se remonta a 1976, quando a vitória do candidato democrata Jimmy Carter demonstrou que um bom resultado nesta votação pode catapultar qualquer aspirante à presidência dos EUA. Desde então, os cidadãos de Iowa converteram-se em protagonistas absolutos do começo da campanha: são os primeiros interrogados sobre sua intenção de voto, os primeiros espectadores dos anúncios eleitorais em televisão e os primeiros a receber a visita dos candidatos à presidência dos Estados Unidos a suas cidades.

Donald Trump em discurso no dia da convenção do Partido Republicano em Ohio, em julho de 2016.
Crédito: Timothy A. Clary (AFP)

CURIOSIDADE - Porque as eleições nos EUA acontecem em uma terça-feira?

As eleições nos EUA realizam-se sempre em uma terça-feira do mês de novembro devido à lei de 1845, que veio uniformizar o calendário eleitoral e estabeleceu um dia de voto comum para toda a nação: a terça-feira seguinte à primeira segunda-feira de novembro. Tal como aconteceu em 2016, em que o dia 1 de novembro foi uma terça-feira, logo, a eleição passou para a semana seguinte e ocorreu no dia 08 de novembro.

Até 1845, cada Estado escolhia um dia para as votações. A mudança ocorreu porque os resultados eram divulgados em dias diferentes e influenciavam os eleitores que ainda não tinham votado.

Os Estados Unidos eram um país agrícola onde as pessoas se deslocavam de carruagem ou a cavalo e onde somente os homens brancos votavam. A maioria dos cidadãos tinha que fazer longas viagens para chegar às urnas, o que tornava impossível determinar a segunda-feira como um dia eleitoral, já que muitos dos eleitores começavam o seu trajeto no domingo ou na segunda.

No mês de novembro porquê?

A maior parte dos americanos dedicavam-se à agricultura e neste mês a colheita já havia terminado. 

Porque não votar no fim de semana?

Votar no fim de semana poderia ser uma boa hipótese, mas não para os americanos.
Enquanto para os católicos o domingo era o dia reservado à prática religiosa, para os judeus o sábado era o dia sagrado ("shabbat"). Devido a esta incompatibilidade religiosa, votar no fim de semana era algo impensável para os americanos.

Hoje, 171 anos depois, a tradição mantém-se e os EUA continuam votando na terça-feira, apesar das dificuldades que representa para os cidadãos do século XXI ir às urnas num dia útil.

*com informações dos sites Terra, El País, BBC, RTP e Jornal de Notícias

Espero que esse post tenha sido útil para você!
Bjs!

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2 comentários

  1. Super didático o seu post, mas ainda sim acho mega complicado as eleições americanas e tb acho injusta. A gente reclama tanto do Brasil e poucos reconhecem que nosso sistema é eficiente, rápido e justo (mesmo que depois deem o golpe).
    É um absurdo que lá um candidato no voto popular tenha ganhado disparado e acabe perdendo a eleição como foi neste caso.
    Bjs

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    1. Pois é Neli, depois da eleição onde Hillary perdeu no Colégio Eleitoral, EUA discutem o sistema eleitoral - http://istoe.com.br/eua-discutem-sistema-eleitoral-apos-vitoria-de-hillary-no-voto-popular/

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